hub de saúde
menção Honrosa no concurso internacional Smart, Green & Beyond: Healthcare Facility of the Future, promovido pelo Grupo de Saúde Pública da União Internacional dos Arquitetos – UIA-PHG, em 2017
https://www.uia-phg.org/2017-competition-results
premiado na PREMIAÇÃO ANUAL IABSP 2019 na categoria Cultural e Institucional / Projetos Não Executados
https://www.iabsp.org.br/?concursos=vencedores-da-premiacao-iabsp-2019
clínica pública de saúde + espaço urbano de convivência
Nas metrópoles brasileiras os edifícios de saúde são grandes polos geradores de tráfego, porém não colaboram com a fluidez do tecido urbano, negando, muitas vezes, seu entorno imediato ao se cercarem de muros e grades. Esse fato se agrava nos edifícios públicos de saúde, afastando a população, tornando-se espaços que não oferecem alternativas saudáveis de convivência.
Sendo assim, como poderiam ser as unidades de saúde do futuro?
Refletindo sobre os caminhos que as instituições de saúde contemporâneas no Brasil vêm tomando, a resposta da pergunta acima deveria sugerir uma rápida mudança de paradigma. Portanto, a ideia é ampliar os horizontes das unidades de saúde básica na cidade de São Paulo, na intenção de criar um equipamento social que ofereceria à comunidade espaços de convivência, lazer, esporte, tratando a saúde dos habitantes locais preventivamente, com maior proximidade.
Dessa ideia surgiu o Hub de Saúde, uma clínica de saúde pública que, além de praticar a medicina preventiva, realizar exames básicos e tratamentos ambulatoriais simples, se abre para a comunidade oferecendo espaços de convivência, lazer e esportes.
Junto do programa misto de atividades, numa mescla de centro comunitário e de saúde, esse equipamento urbano seria gerido por meio de um sistema digital informatizado, conectado com a internet, que organizaria os atendimentos e os exames, além de gerar dados epidemiológicos em tempo real para alimentar as estratégias públicas de gestão.
o território
O local escolhido para a implantação desse equipamento social foi um bairro da periferia de São Paulo chamado Vila Nova Esperança, localizada na região noroeste da cidade. Trata-se de um bairro relativamente novo que não possui nenhum equipamento de saúde pública. Os habitantes precisam se deslocar por longas distâncias para poderem ter atendimento médico, realizar exames e tratamentos.
No centro do bairro existe uma área desocupada, em formato circular, que muito provavelmente foi desenhada receber uma praça pública com áreas de convivência. Foi construído no local uma quadra poliesportiva, um pequeno playgroud e uma academia ao ar livre. Porém, o espaço degradou-se rapidamente, evidenciando o fracasso da ocupação do espaço em virtude da falta de um desenho urbano adequado.
Esse local foi o escolhido para implantar o hub de saúde, para atingir dois objetivos simultâneos: oferecer o atendimento à saúde que o bairro não possui e ocupar o espaço de forma mais efetiva, dando-lhe o caráter cívico imaginado inicialmente, agregando áreas de lazer e esporte.
o tipo de unidade de saúde
A proposta prevê a criação de um condensador urbano, onde o atendimento à saúde seja a atividade principal; a motivadora da ocupação do espaço.
Sendo assim, o hub de saúde oferecerá uma clínica pública de saúde básica, espaços de convivência, de lazer e para a prática de esportes.
A clínica terá ambulatório geral (adulto e geriátrico), ginecológico, pediátrico e odontológico; uma unidade de exames por imagem (com Raio X, Tomografia Computadorizada, Densitometria, Endoscopia, Ultrassonografia, Mamografia, Ecocardiograma, Eletrocardiograma, Holter e Ergometria); um laboratório de análises clínicas com capacidade de analisar amostras de sangue, urina e fezes; uma Farmácia para a distribuição de remédios; uma unidade de Fisioterapia e uma unidade de Terapia Ocupacional.
O âmbito de atendimento é local, preventivo e de tratamento para recuperação motora e psicológica. Essa unidade não realizaria atendimento de urgência, emergência, intervenções invasivas, procedimentos complexos, cirurgias e internações. Seria o primeiro estágio do nível de atendimento público, monitorando a saúde da população, distribuindo os pacientes para as outras instituições antecipadamente e tratando casos simples de recuperação motora e psicológica.
Junto do programa de atenção e tratamento à saúde, o hub de saúde ofereceria um local de encontro, atualmente inexistente no bairro.
Nos pavimentos que se relacionam diretamente com o espaço urbano (térreo com dois níveis diferentes) seriam criados um auditório (para estabelecer o diálogo com a comunidade e realização de peças de teatro e shows), uma academia ao ar livre, um playground e uma área para a prática do skate. Todas essas áreas poderiam ser utilizadas 24h. Na cobertura, que pode ser acessada direto pela entrada principal através da escada e dos elevadores, sem passar por nenhuma unidade clínica, seria criada uma quadra poliesportiva que poderia funcionar 15 horas por dia, sete dias por semana.
a tecnologia
O hub de saúde seria gerido por meio de um sistema digital, com interface online, realizando duas tarefas: gerenciar a relação entre a instituição e os habitantes, através de um aplicativo de smartphone, e gerar dados epidemiológicos para um Big Data de saúde, fornecendo informações estratégicas para a gestão pública.
o aplicativo
O hub de saúde teria uma equipe de Tecnologia da Informação, que gerenciaria o sistema eletrônico, o aplicativo de relacionamento com a comunidade e todo o banco de dados gerados.
Cada habitante do bairro instalaria o aplicativo em seu smartphone, faria o cadastro e geraria um perfil que seria linkado com os membros da sua família que morassem na mesma residência. Esse aplicativo avisaria os membros das famílias sobre as datas das consultas, dos exames o dos demais atendimentos. Essa organização seria feita pelo sistema eletrônico de gerenciamento da instituição.
A interface, em tempo real entre sistema e aplicativo, poderia otimizar os processos, desmarcar consultas com mais rapidez (através da confirmação dos habitantes e dos médicos), realizar reagendamentos e monitorar a frequência das pessoas com seus compromissos de saúde. Assim, seria possível saber quando alguém abandonou o tratamento ou não compareceu as consultas.
big data
Esse sistema, com a interface do aplicativo, geraria dados concretos do perfil epidemiológico da região, oferecendo informações e estatísticas preciosas para o poder público planejar melhor seus investimentos.
A unidade da Tecnologia da Informação da instituição seria responsável pela segurança desses dados, impedindo que os históricos de saúde dos habitantes se tornassem públicos. Eles codificariam e compilariam os dados de acordo com as solicitações da secretaria de saúde pública.
infraestrutura física
O edifício seria construído por sistemas pré-fabricados com componentes, na sua maioria, metálicos. Todo o projeto respeita uma modulação de 1,25m x 1,25m, gerando grande flexibilidade para a produção dos componentes, a instalação e as futuras alterações e trocas. O edifício foi pensado de acordo com as necessidades de constantes atualizações dos edifícios para a saúde, portanto para ser flexível, facilitando futuras obras e mudanças nas instalações.
Um dos elementos que geram essa flexibilidade é o espaço técnico, dedicado as máquinas mais robustas, localizado acima da unidade de exames por imagem e abaixo da quadra poliesportiva. Esse espaço seria destinado para a instalação das máquinas de ar-condicionado, reservatórios de água pluvial, equipamentos para tratamento de água, medidores, transformadores, bombas, etc. Seu tamanho permite o incremento de tecnologia, além da facilidade de manutenção dos equipamentos já instalados.
sistemas ecoeficiêntes
Para reduzir o consumo de recursos naturais, alguns sistemas foram sugeridos.
Para a geração de energia elétrica, sistema composto por placas fotovoltaicas, sem armazenagem por baterias.
Para o consumo de água, sistema de filtragem e reutilização de água pluvial e do córrego que existe no local, para acionamento das descargas dos vasos sanitários, cubas de despejo, rega de jardins e lavagem das áreas externas.
O esgoto seria totalmente tratado no local, por estação compacta formada por filtros anaeróbios e aeróbios, despejando a água limpa no córrego existente.
geração de energia
O sistema de geração de energia trata-se de uma pequena usina solar, composta por placas fotovoltaicas, que gera energia em tempo real durante o dia, injetando o excedente na rede elétrica local. A capacidade de geração do sistema é de duas vezes o consumo diurno da instituição (sem considerar o consumo das máquinas de exames de grande porte), sendo o excedente, cerca de 50% da produção, ‘emprestado’ a concessionária pública. Durante a noite, onde o consumo de energia seria menor, aconteceria uma troca de fonte de alimentação, e a instituição passaria a ser alimentada pela energia da concessionária, com a ‘devolução’ de parte da energia emprestada. Dessa forma não haveria custo de consumo de energia além do valor de instalação e manutenção do sistema, cujo retorno do investimento aconteceria em menos de três anos.
tratamento e reutilização de água
As águas pluviais seriam captadas e armazenadas em reservatórios localizados no espaço técnico do segundo pavimento, seriam tratadas por filtros anaeróbios, cloradas (para não serem confundidas com água potável) e bombeadas até reservatórios específicos na casa de máquinas da cobertura para alimentarem o sistema auxiliar destinado aos vasos sanitários, ao sistema de rega e a lavagem das áreas externas. Nos períodos não chuvosos esse sistema seria alimentado com as águas da canaleta pluvial urbana que passa abaixo do edifício, que seria captada na área técnica do subsolo, bombeada até os reservatórios de reúso, tratada e distribuída no sistema auxiliar.
tratamento de esgoto
O esgoto não seria despejado no sistema público. Ele seria armazenado, tratado e, após apresentar condições adequadas para o meio ambiente, despejado na canaleta pluvial urbana. O tratamento seria feito por um sistema compacto, industrializado, composto por filtros biológicos anaeróbio e aeróbio, enterrados e acessíveis pela área técnica do subsolo.
áreas:
subsolo: 209,10m²
térreo inferior: 1.280,85m²
térreo superior: 1.379,20m²
1º paimento: 1.618,60m²
2º pavimento: 1.618,60m²
cobertura: 194,18m²
casa de máquinas: 175,84m²
total: 6.476,37m²
ficha técnica
projeto: Hub de Saúde – concurso de projetos
local: São Paulo – SP – Brasil
autor: Erick Vicente
data: 03/2017
publicações:
Revista IPH nº14
https://iph.org.br/revista-iph/edicao/revista-iph-n-14
Livro Edifícios de Saúde Vol 2: projetos e detalhes (J.J. Carol, 2018).
Site Archdaily Brasil
Site Galeria da Arquitetura
https://www.galeriadaarquitetura.com.br/projeto/eam_/hub-da-saude/4857
Categoria:
Data:
10/07/2021